quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Velórios inusitados

Autor: Mário Marinho
Editora: Sá Editora
Ano: 2010
173 páginas

A morte e seus desdobramentos é um acontecimento sisudo, onde os vivos sabem como agir em cada situação e não há espaço para imprevistos... correto? Errado! A morte faz parte da vida e como todo acontecimento, está sujeita a ocorrência de fatos inusitados e/ou situações constrangedoras. São estas situações, no mínimo curiosas, o assunto do livro “Velórios inusitados”. Escrito pelo jornalista mineiro Mário Marinho, o autor entremeia ficção e realidade em 56 contos de fácil e rápida leitura. Vale repetir o recado que Mário Marinho deixou em seu blog: “O livro não é lúgubre, não é macabro e nem desrespeitoso com esse evento que é o segundo em importância na vida do ser humano. O primeiro, claro, é o nascimento”.

Vou comentar 4 contos, apenas para atiçar a curiosidade de vocês com relação aos outros 52:

“O marketing do adeus” - sobre a crescente mercantilização da morte, adaptada às jogadas de marketing do mercado econômico atual. Destaque para o slogan muito criativo do Cemitério Vertical de Curitiba: “Não tenha pressa, mas, quando for, vá de primeira”.

“Salvo pelo sino” – sobre a dificuldade de se atestar a morte de alguém quando a medicina ainda dispunha de poucos recursos para isso, em meio à ocorrência de muitos casos de catalepsia. Uma das “soluções” encontradas para isso foi “amarrar uma tira no pulso do defunto, passá-la por um buraco feito no caixão e amarrá-la a um sino”. Se por acaso o morto não estivesse assim tão morto, o movimento de suas mãos acionaria o sino e ele estaria “saved by the bell”.

“Começo de namoro” – neste conto são apresentados alguns casais que se conheceram em velórios, funerais ou necrotérios. De acordo com o livro “Guerrilla dating tactics: strategies, tips, and secrets for finding romance”, da autora Sharyn Wolf, o cemitério é o terceiro colocado na lista dos dez lugares mais inusitados para começar um romance.

“Turismo macabro” – este conto cita o exemplo de uma empresa de São Paulo que oferece um pacote turístico em locais com supostas atividades paranormais, além da visita aos cemitérios da região, como o Redentor, Araçá e Consolação. Acrescento que atualmente o “turismo cemiterial” vem crescendo cada vez mais: vários cemitérios no mundo todo já se tornaram pontos turísticos, a exemplo do Père-Lachaise (Paris), Recoleta (Buenos Aires) e do Highgate (Londres), por exemplo.

Como é possível perceber através dos exemplos acima citados, os contos do livro “Velórios inusitados” abordam não somente o momento do velório em si, mas também outros assuntos relacionados à mesma temática: a morte. Só senti falta das referências bibliográficas ao final do livro, com a relação de todas as fontes pesquisadas durante a elaboração do livro.

Durante a leitura de “Velórios inusitados”, foi praticamente impossível não lembrar de algumas obras literárias que abordaram o tema da morte e se tornaram clássicos da literatura nacional e internacional, como “A morte e a morte de Quincas Berro d’Água”, de Jorge Amado, “Incidente em Antares”, de Érico Veríssimo e “As intermitências da morte”, de José Saramago.

Como o único acontecimento da vida que temos certeza, a morte também tem o seu espaço na literatura!

6 comentários:

Regiane Cristina S. disse... Responder comentário

Um livro meio mórbido, porém interessante. O conto que mais me chamou atenção foi o Começo de namoro. Fico pensando pessoas se apaixonando num encontro em um velório, funeral, etc... realmente é bem diferente, mas que deve acontecer bastante. Eu nunca tinha parado para pensar nisso.

Os demais contos são tão interessantes quanto. Não conhecia esse livro. Parabéns pela resenha!


Beijinhos,

Ler e Almejar

Fernanda Matos disse... Responder comentário

Resposta ao comentário da @Regiane Cristina S.:

Oi Regiane,

Eu sou meio suspeita para falar sobre essa temática, porque fiz pesquisas nessa área desde a graduação até o mestrado e pretendo continuar pesquisando sobre esse tema riquíssimo cada vez mais!

Obrigada pelo comentário!

Bjo!

Jeh Asato disse... Responder comentário

Uaaau, que massa!!
Não conhecia esse livro, sendo sincera!! Huhuhuh!

Eu já tinha visto e ouvido sobre o turismo em locais como cemitérios e tal.. A gente "aprendeu" isso na faculdade!
E o mais interessante é que existe público pra isso, veja só! Hehehe

O do sino, nossa, não sabia?!!?!? É bom que, no meu caso, eu tenho medo de ser enterrada viva. O sino cairia muito bem! Se eu estivesse viva, ouviriam o sininho e me tirariam de lá!
#uffa

Adorei mesmo, muito bom!!

Beijos Fer!
xoxo

Fernanda Matos disse... Responder comentário

Resposta ao comentário da @Jeh Asato:

Oi Jeh!

"Velórios inusitados" foi publicado pela Sá Editora! Pode ser mais uma opção de editora para parceria com o Liege, tem uns livros bem interessantes!

Existe público para o turismo cemiterial sim! Eu, particularmente, acho o máximo! Adoro!

Obrigada pelo comentário!

Bjo!

Hürrem disse... Responder comentário

Olá Eliana,
Sou Hürrem do blog "Vida na Turquia e otras cositas mas"
Gostei muito de saber que vc está traduzindo autores turcos para o portugues! Vc poderia me dar teu e-mail? Gostaria de te escrever a respeito dos autores turcos. Obrigada e um abraço.

Hürrem disse... Responder comentário

Esqueci de comentar que gostei muito da proposta da Editora em publicar livros mais alternativos! Parabéns!

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